Governo do RJ autoriza máquinas de apostas e credencia empresa com familiares de bicheiros

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A iniciativa, no entanto, enfrenta resistência. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), declarou oposição ao decreto e anunciou que irá suspender os alvarás de locais que adotarem o sistema
O governo do Rio de Janeiro, por meio da Loterj — autarquia vinculada à gestão de Cláudio Castro (PL) — concedeu credenciamento à empresa To All Games Operações Lotéricas para atuar com máquinas de apostas em diversos pontos comerciais do estado.
O que chama atenção é a presença, no quadro societário da empresa, de dois nomes ligados a figuras históricas do jogo do bicho: Fernando Andrade de Lima Souto, sobrinho de Castor de Andrade, e Ailton Guimarães Jorge Junior, filho de Capitão Guimarães.
Ambos aparecem como sócios por meio de suas respectivas holdings, F. Souto Participações e GC Invest Participações, conforme registros da Redesim (Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios). A empresa, que declara capital social de R$ 7 milhões, foi fundada em julho de 2024 e obteve credenciamento dois meses depois, por meio de edital que autoriza apostas via celular, totens e Video Lottery Terminals (VLTs).
O histórico dos sócios inclui menções em processos judiciais antigos. Fernando foi citado em uma ação do Ministério Público em 2006 por suposta participação em atividades de videopoker e jogo do bicho em cidades da Costa Verde, embora tenha negado envolvimento. Já Ailton aparece em documentos da Justiça Federal relacionados a bingos clandestinos e em anotações que indicariam divisão de lucros com familiares. Apesar disso, nenhum dos dois possui processos criminais em aberto atualmente.
A regulamentação dos VLTs foi oficializada por decreto assinado por Castro em agosto, permitindo a instalação dos equipamentos em bares temáticos e casas lotéricas, com pagamentos realizados via Pix. Segundo a Loterj, o processo de credenciamento inclui análise jurídica, técnica e de compliance, além de auditorias e monitoramento contínuo para garantir que os recursos sejam destinados a projetos sociais. A autarquia, no entanto, não divulgou quantas empresas foram credenciadas até o momento.
Os VLTs funcionam com algoritmos de combinações aleatórias, semelhantes às máquinas de caça-níquel, e possuem design atrativo com botões coloridos e imagens chamativas. A Loterj afirma que os equipamentos estarão conectados a um sistema central que permite acompanhamento em tempo real.
No dia 5 de setembro, a To All Games solicitou autorização para instalar 105 máquinas no Jockey Club Brasileiro, na Gávea. O projeto inclui um salão de apostas com bar e cozinha, além de uma área VIP. A intermediação com o governo estadual é feita por Pedro Vianna da Silva, representante legal da empresa, cujos contratos não mencionam diretamente os nomes de Fernando e Ailton.
O plano de negócios da empresa prevê a instalação de 9.000 terminais VLT e 91 salas de jogos em 28 municípios fluminenses, com investimento estimado em R$ 108,9 milhões. A expectativa é alcançar R$ 715,69 milhões em receita ao longo de cinco anos, sendo que os VLTs representariam cerca de 44% desse total.
A iniciativa, no entanto, enfrenta resistência. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), declarou oposição ao decreto e anunciou que irá suspender os alvarás de locais que adotarem o sistema. A Prefeitura chegou a emitir licença para a instalação de um ponto de apostas da To All Games na Tribuna A do Hipódromo da Gávea, mas a autorização foi posteriormente revogada pela Secretaria de Ordem Pública (Seop).